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EDUCAÇÃO

Desde que a LBI foi aprovada, todas as crianças especiais têm direito à educação inclusiva, mas será que essa inclusão realmente acontece? 
Por Gabriela Ferreira
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A aprovação da LBI trouxe aos pais o direito de exigir a aceitação de seus filhos por parte das escolas se eles desejarem que os mesmos permaneçam na instituição, fazendo com que as escolas se adaptem independente de elas terem recursos ou não. Mas na realidade as coisas não são bem assim, cada novo aluno gera gastos para a escola, por isso, tudo é calculado antes do ano letivo começar, para que todos os gastos que a escola vai ter durante o ano (isso inclui gasto com os professores e com recursos para os alunos) sejam repassados igualitariamente para os alunos. Quando a escola recebe alunos especiais, eles precisam receber essas crianças e dar todo o suporte que as mesma precisarem, mas, pela lei, a escola não pode cobrar nada a mais por esses serviços.

E é aí que as escolas (principalmente as particulares) encontram sua primeira dificuldade, os gastos com essas crianças especiais não estavam previstos, então as escolas precisam gastar a mais para atender essa nova demanda, e custos a mais não estão nos planos dessas instituições. A solução que essas instituições encontram é estipular um limite de alunos especiais que vão receber, o caso do autismo, além das vagas limitadas, as escolas analisam o grau da criança, caso o grau de autismo dessa criança seja muito severo eles não aceitam alegando que não não há mais vagas. Porque não aceitam? As escolas brasileiras costumam se preocupar mais com resultados em avaliações do que com o resultados pessoais, uma criança com autismo severo além de dar gastos com um acompanhante terapêutico (um estagiário de psicologia, por exemplo) poderia em partes atrasar a turma, pois como a acompanhante terapêutica Eduarda Monteiro diz “isso é um fato, se tem uma criança com demandas especiais (em sala) ela vai precisar de uma atenção maior, e a turma provavelmente vai perder em alguns momentos o foco e a atenção devido a isso. Porque eles se levantam, vão brincar e… por mais que os outros não vão brincar (com as crianças especiais) eles olham essa criança brincar ao invés de prestar atenção”.

 

As dificuldades com gastos são as mais burocráticas, depois que os pais conseguem achar uma escola para seu filho, começa um novo desafio, ter certeza se a educação e tratamento que essa criança vai receber será satisfatória, chegamos agora à sala de aula, os professores. O Pintando o sete conversou com três professoras que contam suas experiências dentro de sala de aula com crianças autistas e como têm se preparado para essa nova situação.

I- Maria Joelia 

Maria Joelia conta que sua primeira experiência em sala de aula já foi com uma criança autista e que foi muito difícil porque além da pouca experiência, ela não tinha muito auxílio da escola, não sendo avisada previamente da limitação da criança e nem recebendo orientações de como lidar com a mesma. As adversidades não pararam por aí, fora a falta de companheirismo da escola, ela teve de lidar com o preconceito da família da criança, que não aceitava a condição dela.  “Eu pedi pra sair da escola”, Maria Joelia afirma que a falta de apoio - tanto da escola, quanto da família - tornaram seu trabalho extremamente difícil o que lhe levou a uma única saída.

Depois dessa primeira experiência nada amigável, Maria Joelia foi para outra escola, nessa ela diz que já foi melhor orientada recebendo formações e o apoio da escola, mas conta que não dependeu só da escola para trabalhar com essas crianças “Eu também procurava ler, me informar… (procurava) atividades que propiciam uma melhor aprendizagem pra essas crianças, conversei com as famílias”, segundo a professora, quando se tem alunos especiais (não só autistas) é necessário que você entenda sobre o assunto para poder lidar com elas, é importante também que o profissional não espere somente da instituição na qual trabalha, é necessário que ele procure saber mais sobre as necessidades dos seus alunos, mas claro, isso não anula a responsabilidade da escola “Mas a escola também tem que fazer a parte dela, claro que o professor necessita muito da ajuda da escola e da parceria da família”.

“Mas a escola também tem que fazer a parte dela, claro que o professor necessita muito da ajuda da escola e da parceria da família”

Maria Joelia

Professora do ensino infantil

Maria Joelia diz que para explicar para as outras crianças sobre os colegas especiais se usa de histórias “...eu trabalho com histórias que trabalham a diferença, como a Joaninha sem bolinha, ou O patinho feio, qualquer história que trabalha as diferenças. Eu não explícito pras crianças que essa criança tem uma limitação - que ela é autista, que tem síndrome de down - mas eu procuro trabalhar da melhor maneira possível para que elas entendam”. Ela explica que as outras crianças entendem que seus colegas especiais são diferentes, mas que isso não atrapalha e muitos deles até ajudam. Quando o aluno especial não quer participar da atividade ela tenta levar a atividade até o aluno, além de utilizar jogos de letras, de encaixe e os matemáticos. Maria Joelia se adapta como pode usando os recursos disponíveis “Sim, sem dúvida nenhuma é um desafio que nós temos e temos que ter toda sabedoria de tentar incluí-la no grupo, claro que ela (a criança especial) vai ter um pouco de resistência… mas nós como professores devemos acreditar no potencial de todos os alunos, de todos os educandos, sem colocar empecilho, mesmo na sua limitação, na sua dificuldade” finaliza.

II- NORMA MEIRELES 

Norma Meireles, professora da Escola de Aplicação Yolanda Queiroz, diz que não teve tanta dificuldade com crianças especiais porque a escola já trabalhava inclusão desde antes da aprovação da LBI, mas não esconde que sabe da dificuldade em outras escolas “...realmente têm escolas que ainda hoje não querem aceitar, essas escolas grandes não querem aceitar”. Essa é uma realidade enfrentada pelos pais que procuram por uma escola para seus filhos especiais (vagas limitadas, falta de acompanhante ou a não aceitação por parte da escola de um profissional pago pela família), o que dificulta que essas crianças ingressem em alguma escola.

 

Atualmente Norma está com um aluno autista e outro que ainda não tem o diagnóstico, mas, ao que  tudo indica, ele também tem TEA, os dois têm graus diferentes. O que ainda não tem o diagnóstico fechado é mais resistente “...eu já faço umas atividades diferentes”, com esse aluno Norma faz as mesmas atividades que faz com o resto da turma e outras específicas com ele para trabalhar mais direcionadamente. Já a outra criança tem um grau moderado de autismo, segundo ela, o garoto sempre fez todas as atividades e é muito inteligente, mas ficava irritado quando não conseguia fazer algo “se ele não entendesse uma tarefa, se ele achasse que tava errado, se na prova ele não soubesse aquela questão… enquanto a gente não explicasse bem direitinho até que ele entendesse, ele não entregava, tinha que ser tudo certo”.

“...porque às vezes realmente a

gente não tem muito preparo”

Norma Meireles 

Professora de ensino infantil

Assim como Maria Joelia, Norma sabe que a escola também tem sua parcela de responsabilidade e precisa preparar seus profissionais “...porque às vezes realmente a gente não tem muito preparo”, promovendo formações para os professores os tornando aptos a lidar com os alunos especiais, mas reitera que essa formação deve partir da escola e do próprio profissional. Norma acha a aprovação da LBI de extrema importância, pois facilita a vida dos pais de crianças especiais e obriga as escolas a trabalharem a inclusão, o que já deveria ser feito.

III- RENATA SAMPAIO

Renata Sampaio, que também é professora da Escola de Aplicação Yolanda Queiroz, conta que mesmo com a inclusão trabalhada na escola ainda há dificuldade para atender as crianças que necessitam de um olhar diferenciado. Muitas vezes por ter um número grande de crianças em sala, o que a impede de ter um trabalho mais direcionado com essa criança especial como também por a formação dos pedagogos não ser suficiente, situação que é alertada não só por Renata mas também por outras professoras e mães que o Pintando o sete conversou. Confira mais da conversa com a professora Renata Sampaio no vídeo abaixo.

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Palavra do profissional 

A Escola de Aplicação Yolanda Queiroz foi super receptiva com o Pintando o sete, confira agora um pouco mais do trabalho da escola com crianças especiais! 

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